Talentos de casa para o mundo
O Rio Grande do Sul sempre foi exportador de talentos – médicos, agricultores, pesquisadores, jornalistas, publicitários, executivos de negócios etc. Temos gaúchos espalhados pelo mundo em quase todas as áreas e em posições relevantes. No comando de centros de pesquisa, dirigindo empresas, colonizando o oeste do Brasil. Os exemplos são inúmeros. Nossas escolas e universidades, durante muito tempo, estiveram entre as melhores do país. Em algumas áreas ainda formamos bem, mas hoje menos. Perdemos espaço. A evasão de mestres e doutores é enorme por razões diversas. Passam pela política, economia, falta de investimento, questão salarial, enfim. E, fora daqui, os salários são até dez vezes maiores e os laboratórios de pesquisa bem equipados.
Nossos doutores são competitivos mundialmente. Os graduados na área de Biologia da UFRGS ou em Ciências da Computação, por exemplo, estão no mesmo nível das melhores universidades do mundo. Sabemos trabalhar em condições adversas. Na Medicina, alunos do hemisfério norte não encostam a mão em pacientes. Os nossos são a mão de obra pesada do SUS.
Para reter talentos, algumas questões são vitais – cidades mais seguras, bem cuidadas, com transporte fácil, educação e cultura acessíveis e de qualidade, oportunidades dignas de trabalho. Precisamos também de projetos relevantes globalmente para mostrar (grandes talentos têm grandes egos, em particular na primeira metade da carreira). Além disso, Porto Alegre carece ter uma marca forte no ecossistema de inovação global (a exemplo do que Lisboa fez muito bem).
Mas além dos que vão embora, temos uma nova ameaça. Brasileiros diferenciados estão sendo contratados por empresas no exterior para trabalhar sem sair daqui. Cientistas de dados, profissionais de UX (experiência de usuário), designers, especialistas em tecnologia, estratégia, pesquisa, entre tantas áreas. E com o Real tão desvalorizado é impossível para qualquer empresa competir com salários pagos em dólar ou euro.
A pandemia mostrou que não é preciso mais estar na sede da empresa. De modo geral, somos profissionais cosmopolitas, com tino global e temos uma capacidade enorme de adaptação. Conheço várias empresas com sede aqui que perderam seus melhores profissionais para empresas do exterior, sem deixarem Porto Alegre. Os brasileiros competem em talento e custo com nômades da Índia, Cuba e outros países que oferecem boa educação, mas não aproveitam seus recursos humanos.
Alguns países ajustaram a legislação para permitir o novo formato de contratação. O Brasil, não. Logo, não temos condições para contratar estrangeiros, o que seria interessante para empresas locais, pois aumentaria a competitividade no mercado global onde atuam. Está mais do que na hora de acordar e reter talentos.
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