Metaverso e saúde: saiba os riscos dessa tecnologia para o nosso futuro
O metaverso se tornou um dos assuntos mais comentados sobre o futuro da tecnologia, desde as redes sociais até a virtualização do trabalho, e com isso a impressão é que as aplicações do metaverso na vida das pessoas serão infinitas. Porém, à medida que mais gigantes da tecnologia apostam nesse próximo salto da Internet, outras perguntas surgem, ainda mais com as seguidas polêmicas que as redes sociais, como Facebook, ou o monopólio das Big Tech estão gerando nos últimos anos.
Sim, o metaverso pode ser fantástico em muitas áreas, em especial na saúde
As primeiras aplicações utilizando o conceito de metaverso começam a surgir e já demonstram oportunidades gigantes, e uma das principais é na saúde. Em um mercado, onde a concentração de profissionais como médicos é tão desigual entre diferentes países ou até mesmo cidades, facilitar essa conexão digital para consultas ou até mesmo cirurgias pode tornar a saúde de qualidade mais acessível.
Não só a relação médico-paciente pode mudar, mas até o aprendizado de medicina e a interação entre profissionais também podem contar com essa poderosa ajuda. Discutir casos de estudo, diagnósticos ou até mesmo aspectos da formação/educação médica podem mudar com o uso de conceitos conectados com o metaverso, como Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR).
Debater os riscos que esse tipo de tecnologia pode trazer na vida das pessoas é importante
Quero começar com alguns casos extremos. Há décadas as indústrias do tabaco e do petróleo compartilhavam na mídia como seus produtos eram importantes, legais e positivos para as pessoas. Se negavam a discutir os malefícios e por muitos anos foi assim, até que aos poucos o debate começou a fazer parte da mídia e chegou até os governos para discutir regras para esses mercados.
Mas porque comparar essa tecnologia com mercados tão tradicionais como petróleo e tabaco? Porque a realidade é que estamos repetindo os mesmos erros da história, falando sobre tudo de bom que um produto/tecnologia pode oferecer — no caso o metaverso — mas nos esquecendo de discutir também os riscos. Um bom exemplo vem a seguir.
As redes sociais são o tabaco da nova geração
Os adolescentes da nossa geração cresceram nas redes sociais, e até mesmo a população adulta já está inserida nas redes. De aplicativos de paquera como Tinder e Bumble até redes como Facebook, LinkedIn e Instagram, a vida de muitas pessoas se encontra ali. Relacionamentos sociais e até mesmo amorosos são criados nesses espaços digitais, o que é incrível, não é mesmo? Mas, por outro lado, o debate sobre os efeitos nocivos à saúde de jovens e adultos começa também a surgir.
Em reportagem recente do Wall Street Journal, foram publicados trechos de uma pesquisa interna feita por pesquisadores do Facebook e do Instagram que relatavam os impactos negativos na saúde mental de garotas adolescentes, o que posteriormente a empresa negou em um comunicado oficial.
A realidade é que outras pesquisas e estudos apontam em direções similares do ponto de vista de efeitos nocivos à saúde. Em um estudo chamado No More FOMO: limiting social media decreases loneliness and depression (algo como “limitar mídias sociais reduz depressão e solidão”), o pesquisador Hunt afirma que designou aleatoriamente um grupo de alunos de graduação para continuar seu uso típico do Instagram, Snapchat e Facebook, e outro grupo para limitar seu uso a 10 minutos em cada plataforma por dia. Ao final de três semanas, o grupo que limitou seu uso relatou menos sentimentos de solidão e depressão em comparação com o grupo que continuou usando as mídias sociais normalmente.
Redes sociais trazem efeitos nocivos para a saúde e mudar para o metaverso não resolve o problema, só piora
A mudança das interações sociais das redes nos formatos atuais para o metaverso me assusta muito, em especial porque se nas redes atuais já é difícil se desconectar, imagina no metaverso onde tudo é mais imersivo.
Você já tentou ficar algumas semanas sem suas redes sociais, ou mais, já tentou desativar as redes sociais dos seus filhos por um tempo? Já tendo feito isso ou não, é de se imaginar que não é uma tarefa fácil, não é verdade?
O corpo perfeito pode existir no metaverso, e isso representa um risco grande
Nos últimos anos vimos um crescimento exponencial do uso de filtros em redes como Snap e Instagram e o motivo é simples, quem não quer se tornar mais atrativo aos olhos das outras pessoas? Faz parte do nosso lado humano, todos temos algo que queremos melhorar, algumas pessoas querem estar um pouco mais magras na foto, outras mais fortes, um nariz menor, um rosto mais simétrico, enfim, os filtros democratizaram a busca pelo corpo ideal, porém em um mundo paralelo.
Os editores da MIT Technology Review Brasil analisaram como a possibilidade de criar corpos perfeitos no metaverso pode impactar a maneira como pessoas enxergam a si mesmas neste episódio do podcast.
Agora imagina um mundo onde você possa mudar qualquer coisa, altura, peso, cabelo, etc, e de certa forma viver isso. Por um lado pode ser muito legal, porém, por outro, representa um risco de vivermos uma realidade totalmente paralela ao mundo real e, posteriormente, ser difícil sair para encararmos a verdadeira realidade.
A métrica principal dessas redes sociais continua sendo engajamento, o que facilita a criação de produtos altamente viciantes
Como profissional na área de produto, entendo que existe um aspecto simples das redes sociais que torna tais produtos muito perigosos: o foco em engajamento a qualquer custo. Como o engajamento reflete em maior uso e grande parte dessas redes possui seu modelo de receita baseado em publicidade, é fácil imaginar que seus algoritmos nem sempre são pensados em trazer conteúdos de qualidade ou outros benefícios para os usuários, mas sim reter os usuários no produto o máximo possível. Isso é um tema muito complexo, porque muitas vezes tais algoritmos têm a capacidade de compreender nossos gostos e interesses muito melhor do que nós mesmos, o que faz com que seja cada vez mais difícil a fuga de tais redes.
Um exemplo simples aplicado em produto
Imagine que hoje você decide desinstalar o LinkedIn ou o Facebook do seu smartphone porque está gastando muito tempo nessa rede social. Algumas horas depois, você recebe um e-mail avisando que João comentou em sua foto. O e-mail não contém o conteúdo completo, apenas uma notificação genérica, porque é provável, por exemplo, que o time de produto dessa empresa junto com os algoritmos, analisaram que existe uma probabilidade muito maior de você retornar à rede social ao clicar nesse e-mail e abrir a versão web dessa plataforma.
Não existe nada de ilegal em ações como essa, inclusive são comuns em diferentes produtos, porém a questão que fica é, hoje em nossos smartphones, podemos silenciar notificações, emails, etc, porém como gerenciar esse tipo de ações de engajamento dentro do metaverso, onde tudo pode ser muito mais imersivo? E mais, como tornar o uso de tais redes sociais no metaverso mais seguras para jovens e adultos? Esse é um debate que precisa ocorrer, não podemos deixar que a história do tabaco se repita novamente na sociedade, existem inúmeros benefícios com o surgimento do metaverso, mas é fundamental olharmos também para a segurança e para a saúde mental das pessoas nesse novo universo.
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