Tempo de cuidar uns dos outros

Tempo de cuidar uns dos outros

Com o isolamento físico provocado pelo coronavírus entramos em quarentena familiar. Não basta cuidar bem de nós. O momento nos exige tomada de consciência de que nosso entorno também precisa ser cuidado. Em casa, uns sofrem de solidão. Outros, de excesso de gente ou falta de espaço. O home office veio para ficar e a vida virou constantes lives e videoconferências. Nesse laboratório de virtudes e vícios, é fundamental desenvolvermos habilidades para lidar com conflitos que surgem. A violência doméstica está aumentando. Só na cidade chinesa de Xi’an, assim que as pessoas saíram de casa, os cartórios ficaram lotados de gente querendo o divórcio. O psicanalista Pedro Lima diz que a agressividade é maior com as pessoas próximas do que com estranhos. Se faltar dinheiro, fica ainda pior. Ele lembra um ditado popular: “quando a fome entra pela porta, o amor sai pela janela”. Isso porque temos menos coisas a fazer com a família e o convívio é sem trégua. Ficamos, muitas vezes, focados em comportamentos que nos irritam facilmente. Em alguns casos, a saúde das relações domésticas depende da ausência. Em época normal, passamos boa parte do tempo fora trabalhando, estudando etc. Agora, em casa, há uma espécie de pressão ocasionada pela aproximação que antes não existia. Conviver é bom e necessário para nosso desenvolvimento. Porém, muitos de nós não temos habilidades e nem saúde emocional para lidar com isso: trabalho, família, filhos, vida doméstica, tudo acontecendo no mesmo espaço.  Como se manter saudável emocionalmente e equilibrar esses ritmos? Conversei com quem trabalha em casa há mais tempo. Para Fausto Vanin, empreendedor, o grande canal de convivência em casa é a música. “Ela nos conecta de diferentes formas, às vezes na dança, na história, na poesia, muitas vezes na sonoridade em si. Cada um com suas preferências enriquece um balaio de sons e a gente se embala e se acolhe”. Para Ivan Severo, da área de MKT, é preciso “dar mais espaço para as outras pessoas da casa. Mudar a rotina nos finais de semana. Utilizar videoconferência para falar com amigos. Faça um ‘e-churrasco’ – cada um assando na sua casa com a família, conectados, todos se vendo. Reconhecer que os outros estão inseguros e com medo, principalmente as crianças. Conversar com elas, deixar que falem o que estão pensando”. Durga Curtinaz, mediadora de conflitos, diz que é fundamental construir um ambiente de harmonia e equilíbrio, onde exista o diálogo. Para ela “é momento de muita escuta, de estar aberto e disposto a entender o que o outro precisa para se sentir atendido nas suas necessidades, assim como também manifestar as suas próprias, com clareza, verdade e amorosidade”.  Por fim, é fundamental nos adaptarmos a esses exigentes momentos, sermos mais flexíveis, nos interessando pelo outro. Conviver e se desenvolver para construirmos dias melhores para se viver.

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